Filho de idosos mortos a facadas no RJ se revolta com testemunhas de defesa em audiência: ‘Covardes como o assassino’

Berger Vogt
Berger Vogt 8 Min Read
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Três meses após encontrar os pais mortos a facadas dentro de casa, na Zona Sul do Rio, o professor de inglês Felipe da Silva Coelho precisou enfrentar mais um dia de dor e sofrimento durante a primeira audiência de instrução e julgamento do caso, na segunda-feira (26). Segundo ele, ouvir pessoas defendendo o acusado pela morte brutal dos pais foi ‘revoltante’.

“Estar aqui no Rio de Janeiro é muito difícil, são muitas memórias de tudo que aconteceu. (…) Todos os depoimentos foram como se não tivessem duas pessoas mortas, assassinadas, como se não tivesse uma família destruída. Estavam todos defendendo o assassino. E ele não demonstrou nenhum arrependimento”, contou Felipe ao comentar sobre os depoimentos.

Felipe é ex-namorado do oficial da Marinha Cristiano da Silva Lacerda, acusado pelos homicídios triplamente qualificados dos pais do ex-companheiro. Geraldo Pereira Coelho, de 73 anos, e Osélia da Silva Coelho, de 72 anos, que passavam férias no Rio, foram mortos no dia 24 de junho, no apartamento onde moravam Felipe e Cristiano.

Morando em Fortaleza, no Ceará, desde a morte dos pais, Felipe contou que a primeira imagem que viu ao chegar no Tribunal de Justiça do Rio, local da audiência, foi um grupo de parentes e amigos de Cristiano, vestindo camisas com a foto dele e com a mensagem de apoio: ‘Estamos com você’.

“Eu fiquei em choque na hora porque foi desumano, foi um deboche com a minha dor. Foi como se eles estivessem rindo da nossa cara, pisando no nosso sofrimento. Como se não tivesse uma família que foi completamente destruída por esses crimes. Como se não houvesse nenhum crime. Foi aumentar ainda mais a ferida”, relembrou Felipe.

“Eles foram covardes. Tão covardes como o assassino. É revoltante. Isso foi a primeira coisa que eu vi quando cheguei”, completou.
Felipe lembrou ainda que a família de Cristiano nunca entrou em contato com ele para prestar solidariedade pela morte dos pais.

Acusado diz não lembrar de nada
A audiência da última segunda foi a primeira etapa do processo após a denúncia apresentada pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ). Segundo o órgão, Cristiano matou as vítimas por meio cruel, deferindo-lhes elevado número de facadas. As vítimas estavam deitadas em um sofá-cama, não tendo qualquer chance de defesa.

O MPRJ também destacou que o crime aconteceu por vingança, pois o militar estava inconformado com o fim do relacionamento amoroso que mantinha com o filho das vítimas.

Em seu depoimento, Cristiano disse não se lembrar de ter cometido o crime. A falta de memória seria uma consequência de seu estado de saúde mental e dos remédios que ele teria tomado naquela noite.

No local do crime, a polícia encontrou diversas caixas de medicamentos, seringas e receitas de remédios controlados em nome de Cristiano.

Segundo Felipe, Cristiano não demostrou nenhum arrependimento ou remorso pela morte do casal de idosos.

“O testemunho dele foi outro golpe. Basicamente, ele ficou falando mal de mim o tempo todo, falando do nosso relacionamento e disse que não lembrava de nada. Ele disse que tomou remédio para se matar e não se lembra de nada. Não demostrou nenhum remorso, nenhum arrependimento ou compaixão”, contou Felipe.

Na opinião do professor de inglês, a explicação do ex-namorado foi como se o fato de, supostamente, não lembrar do que aconteceu tirasse dele qualquer responsabilidade sobre seus atos.

“É como se alguém chegasse e falasse: ‘Eu bebi todas e se eu não lembro, eu não fiz’. Tipo isso. Um absurdo”, comentou.
Caso pode ir à júri popular
Durante a sessão de segunda-feira, o juiz Alexandre Abraão, da 3ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ), ouviu todas as testemunhas de defesa e de acusação, assim como os depoimentos de Cristiano e de Felipe, que está no processo como assistente de acusação.

Entre as testemunhas, foram ouvidos os dois policiais militares que estiveram no apartamento no Jardim Botânico e efetuaram a prisão em flagrante de Cristiano; um amigo do acusado que esteve com ele momentos antes do crime; além da ex-mulher e da filha de 17 anos do oficial da Marinha.

Para a conclusão do processo, o juiz deve marcar mais uma audiência para as alegações finais dos advogados de defesa e da promotoria. Após essa etapa, a Justiça deve decidir se o caso vai ou não à júri popular.

‘Três meses de pesadelo’, diz Felipe.
A morte trágica dos pais provocou uma reviravolta na vida de Felipe. O professor de inglês que morava no Rio de Janeiro e vivia o fim de seu relacionamento com Cristiano, decidiu voltar para Fortaleza, onde atualmente mora com uma tia e tenta retomar a profissão depois dos últimos três meses de ‘pesadelo’.

“São três meses onde eu acordo todos os dias achando que estou na minha vida normal e rapidamente eu me dou conta que estou vivendo um pesadelo. E que eu não vou acordar mais desse pesadelo. É todo dia isso”, relatou Felipe.

A família do professor de inglês espera que a Justiça condene Cristiano pela morte de Geraldo e Osélia.

“Todos nós ainda estamos sofrendo muito com isso. E esse foi mais um capítulo desse sofrimento. Só espero que a Justiça seja feita”, concluiu Felipe Coelho.
Relembre o caso
O casal formado por Geraldo Coelho, 73 anos, e Osélia Coelho, 72 anos, foi encontrado sem vida em cima de um sofá-cama, na sala de um apartamento, em um condomínio de luxo no Jardim Botânico, na Zona Sul do Rio.

Geraldo e Osélia moravam em Fortaleza, no Ceara, e chegaram ao Rio de Janeiro no último dia 17 de junho, para passar uns dias na casa do filho.

Cristiano foi encontrado pelos bombeiros inconsciente, deitado dentro do baú da cama do box, dopado. Policiais também encontraram no apartamento remédios controlados e receitas em nome de Cristiano. Ele estava com um ferimento na mão.

Cristiano e Felipe são ex-namorados. De acordo com as investigações, os dois ainda moravam juntos no mesmo apartamento no prédio do Jardim Botânico, apesar de já estarem em processo de separação. O motivo para o fim do relacionamento seria uma briga em que Cristiano teria agredido Felipe.

Na noite do crime, Cristiano teve uma crise de ciúmes porque Felipe saiu sozinho pra uma festa em Ipanema, também na Zona Sul. Pra se vingar, ele teria matado os pais do namorado, que estavam na casa dos dois.

Cristiano chegou a ligar pra Felipe pedindo para que ele voltasse para casa, alegando que a mãe dele estaria passando mal. Quando Felipe chegou em casa, os pais estavam mortos, deitados no sofá-cama do apartamento.

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